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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nossos alimentos diários estão envenenados


Todos os dias o povo come veneno. Quem são os responsáveis?

O Brasil se transformou desde 2007, no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. E na última safra as empresas produtoras venderam nada menos do que um bilhão de litros de venenos agrícolas. Isso representa uma media anual de 6 litros por pessoa ou 150 litros por hectare cultivado. Uma vergonha. Um indicador incomparável com a situação de nenhum outro país ou agricultura.

Há um oligopólio de produção por parte de algumas empresas transnacionais que controlam toda a produção e estimulam seu uso, como a Bayer, Basf, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Shell Química, etc.

O Brasil possui a terceira maior frota mundial de aviões de pulverização agrícola. Somente este ano [2010] foram treinados 716 novos pilotos [segundo dados da Anac]. E a pulverização aérea é a mais contaminadora e comprometedora para toda a população.

Há diversos produtos sendo usados no Brasil que já estão proibidos nos paises de suas matrizes. A ANVISA conseguiu proibir o uso de um determinado veneno agrícola. Mas as empresas ganharam uma liminar no “neutral poder judiciário” brasileiro, que autorizou a retirada durante o prazo de três anos... e quem será o responsável pelas consequências do uso durante esses três anos? Na minha opinião é esse Juiz irresponsável que autorizou as empresas a desovarem seus estoques.

Os fazendeiros do agronegóio usam e abusam dos venenos, como única forma que tem de manter sua matriz na base do monocultivo e sem usar mão-de-obra. Um dos venenos mais usados é o secante, que é aplicado no final da safra para matar as próprias plantas e assim eles podem colher com as máquinas num mesmo período. Pois bem, esse veneno secante vai para atmosfera e depois retorna com a chuva, democraticamente atingindo toda população sobretudo das cidades vizinhas.

O dr. Vanderley Pignati da Universidade Federal do Mato Grosso tem várias pesquisas comprovando o aumento de aborto, e outras consequências na população que vive no ambiente dominado pelos venenos da soja.

Diversos pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e da Universidade Federal do Ceará já comprovaram o aumento de câncer, na população brasileira, consequência do aumento do uso de agrotóxicos.

A ANVISA - responsável pela vigilância sanitária de nosso país - detectou e destruiu mais de 500 mil litros de venenos adulterados, somente este ano, produzido por grandes empresas transnacionais. Ou seja, além de aumentar o uso do veneno, eles falsificavam a formula autorizada, para deixar o veneno mais potente, e assim o agricultor se iludir ainda mais.

O dr. Nascimento Sakano, consultor de saúde, da insuspeita revista CARAS escreveu em sua coluna, que ocorrem anualmente ao redor de 20 mil casos de câncer de estômago no Brasil, a maioria consequente dos alimentos contaminados, e destes 12 mil vão a óbito.

Tudo isso vem acontecendo todos os dias. E ninguém diz nada. Talvez pelo conluio que existe das grandes empresas com o monopólio dos meios de comunicação. Ao contrário, a propaganda sistemática das empresas fabricantes que tem lucros astronômicos é o de que é impossível produzir sem venenos.

Uma grande mentira. A humanidade se reproduziu ao longo de 10 milhões de anos, sem usar venenos. Estamos usando veneno, apenas depois da Segunda Guerra mundial, para cá, como uma adequação das fabricas de bombas químicas agora, para matar os vegetais e animais. Assim, o poder da Monsanto começou fabricando o napalm e o agente laranja, usado largamente no Vietnam. E agora suas fábricas produzem o glifosato. Que mata ervas, pequenos animais, contamina as águas e vai parar no seu estômago.

Esperamos que na próxima legislatura, com parlamentares mais progressistas e com o novo governo, nos estados e a nível federal, consigamos pressão social suficiente, para proibir certos venenos, proibir o uso de aviação agrícola, proibir qualquer propaganda de veneno e responsabilizar as empresas por todas as consequências no meio ambiente e na saúde da população.

Artigo do economista João Pedro Stedile, membro da Via Campesina, Brasil.

5 comentários:

edu disse...

Otimo tema.

A principal razao para NAO residir no Brasil ou USA é essa, o utilizo LIVRE de VENENOS, nas plantas(sao tantos tipos que listar é impossivel), HORMONIO DE CRESCIMENTO e ANTIBIOTICOS nos animais.

No Brasil nao posso consumir tomates, tenho problemas digestivos serios com o fruto brasileiro, porem o tomate holandes(maior produtor europeu de tomates frescos), cultivado sem pesticidas, onde o inimigo natural da praga é inserido no meio ambiente, combatendo o mal de forma natural, nao me provoca mal algum (alem de ter perfume e sabor de tomate).

Depois as mutaçoes geneticas que fazem o tomate ou a batata nao TER GOSTO...

Esse é um ponto que identifiquei IMEDIATAMENTE no discurso da nova presidente brasileira, Dilma (sou admirador do carater e capacidade) alega que vai pressionar as "grandes" naçoes para que abram os seus mercados aos produtos brasileiros,

COMO????

nem pensar, os produtos brasileiros como frango, carne bovina, frutas, verduras e cerais, sao produzidos em uma realidade impossivel para um pais que valoriza o seu cidadao.

Impossivel pensar que o tomate brasileiro (apenas 1 de centenas de exemplos possiveis) possa competir com o tomate produzido na Holanda, IMPOSSIVEL, no Brasil a produçao desse fruto mata inclusive o trabalhador que aplica os venenos, que dira dos que o consome durante anos.

Para os brasileiros que nao lembram mais, TOMATE TEM PERFUME, TEM GOSTO!!!

A conversa ja esta longa mas nao posso terminar sem citar os hormonios e antibioticos aplicados aos animais de corte, quem nao lembra das meninas de 11 anos, do oeste catarinense, que ja apresentavam nodulos nos seios (que estavam apenas iniciando o desenvolvimento)?? Comprovadamente decorrentes da ingestao de carne produzida com uso de hormonio de crescimento.

Concluo aconselhando a todos os que forem ao Brasil, de consumir alimentos produzidos pelos pequenos agricultores, aqueles que ainda praticam uma agricultura de policultura, e que organizam as "feiras do produtor rural", é o unico meio de ainda se obter alimento sadio no Brasil.

Anônimo disse...

toia: belo artigo do companheiro Pedro. Tu sabes da luta que estou empreendendo no nosso projeto de agroecologia aqui no Piquiri,distrito da nossa Cachoeira do Sul. O que fiz pra não ter o projeto agroecológico contaminado p/aplicação de veneno pela aviação agricola. Fui no Ministério Público, que determinou a fiscalização por parte dos órgãos do meio ambiente (Ibama, fepam e patram) para nos dar segurança que não seremos atingidos pelos venenos. Até agora deu certo, pois nenhum lavoreiro aplicou veneno de avião. Na minha opinião, tem que ter ações de todos nesse sentido, não basta somente verificar a gravidade do problema. Temos que agir e JÁ.
abraços
Januario

zé bronquinha disse...

Neste tipo de governo não confio mesmo. Veja só.Uma portaria do Ministério da Justiça obriga todos os produtos contendo mais de 0,7% de transgenia, informar isso em suas embalagens. Essa norma nunca foi cumprida por pressão das empresas do ramo, ficando aquele ministério submetido a vontade dessas empresas tranasnacionais.

Anselmo disse...

Cristovão,nós estamos na Feira dos Agricultores Ecologistas todos os sábados,a partir das 6h comercializando comida limpa.Fica na rua José Bonifácio.
É a feira de produtos orgânicos mais antiga do Brasil em pleno funcionamento.
O texto é certeiro.O João Pedro nos traz dados impressionantes,nos marcos dessa sociedade os espaços são poucos.Parabéns pelo tema. Anselmo

Anônimo disse...

Bem, palmas para o governo "democrático e popular" presente e --- por antecipação --- para o vindouro também...
Sim, o povo brasileiro está comendo mais: inclusive ingerindo mais pesticidas, e na base do cartão de crédito... Mas afinal esse não é o destino mais apropriado para povos mestiços, cronicamente "em desenvolvimento" e, ainda por cima, eternamente endividados?...

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